Existem momentos em nossas vidas que olhamos para os lados e
sentimos que, por mais que tudo permaneça do jeito que sempre foi, tudo parece
estar diferente.
Quando crianças talvez não nos déssemos conta do quão hostil
o mundo era. Pessoas em nossas vidas zelavam por nosso conforto e segurança e cuidavam
do que eram nossas responsabilidades. Nossas maiores preocupações eram as
tarefas escolares ou aquela fase naquele jogo a qual não conseguíamos encontrar
a passagem secreta.
Assim que alcançamos certa idade descobrimos que o mundo e
as pessoas fora do âmbito social o qual vivíamos não eram tão amigáveis quanto
pareciam. Saímos da nossa zona de segurança para sermos esmagados por um novo
mundo que, quanto mais o conhecemos, menos queremos conhecer.
Logo começamos a nos deparar com situações que nos fazem sentir
estúpidos, pessoas que sentem prazer em nos prejudicar e aquelas que
intencionalmente ou não, mentem e nos fazem sofrer. Percebemos que certas diferenças
entre nós e o resto do mundo nos impossibilitam de conviver espontaneamente e
começamos a fingir ser pessoas que não somos, somente para fazer com que essa
convivência seja ao menos tolerável.
A partir deste momento, não demora muito para percebermos as
mudanças. Passamos mais da metade do nosso tempo imersos em atividades sociais,
boa parte delas com pessoas que não nos identificamos ou não gostamos, mas com
as quais precisamos conviver. Nossas semanas ficam divididas entre nossos
deveres com a sociedade e os momentos em que podemos fazer aquilo que gostamos
com as pessoas que amamos – e este último faz parte de uma fatia ínfima de todo
o resto. Este ciclo nos desgasta a cada dia, fazendo os momentos felizes parecerem
cada vez menores se comparados ao trabalho que temos para mantê-los.
Somos todos masoquistas. Seguimos empurrando a vida, ferindo
a nós mesmos todos os dias em função de pequenos prazeres. Depositamos nossas
esperanças em futuros incertos para fazer com que possamos suportar um presente
que, ironicamente, era o futuro de ontem.